sexta-feira, 16 de julho de 2010

ESTUDOS NO EVANGELHO DE JOÃO (Capítulo I)


"No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus"
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O Evangelho de João ficou conhecido como o quarto Evangelho e também como o Evangelho do Filho de Deus. Estudiosos defendem que o quarto Evangelho foi escrito a pedido da ala grega da igreja primitiva, devido a ameaça gnóstica existente nos primeiros anos do cristianismo. Era comum nesse período expressões como: “cristão-gnóstico” ou “gnóstico-cristão”. Todavia o entendimento gnóstico acerca do Logos era imperfeito, sendo o Logos um ser que estaria ao lado de Deus sem, no entanto, ser Deus. Seria apenas mais uma emanação do deus Uno, assim como o Demiurgo (o Deus do Antigo Testamento), emanação esta que, na visão gnóstica, nunca deveria ter existido, pois que se rebelara contra Uno e fazia o que era mal.

Temos em Ez.1.10 a manifestação de seres celestiais, que o profeta identificou como querubins (Ez. 10.20). Esses tinham quatro asas e quatro faces, cada face olhando em uma direção e dispostas como sendo rostos de leão, de boi, de homem e de águia. O rosto de leão apontaria para a realeza do Senhor Jesus, apresentado em Mateus; o rosto de boi, para o Evangelho de Marcos, apresentando Jesus como o Servo do livro de Isaías; o rosto de homem para Sua humanidade no livro de Lucas e, finalmente, a face de águia que apontaria para Sua Divindade e origem celestial, representada no Evangelho de João.

O Logos, na concepção grega, era a origem criadora de todas as coisas, que sustentava e ordenava todas as coisas, estando ao lado de Deus, mas não sendo Deus. Esse tipo de ensinamento era estranho e nocivo à doutrina cristã ainda em formação na igreja primitiva e terrivelmente maligna do ponto de vista conceitual de Jesus como Filho de Deus.

O Evangelho de João tem um prisma que o diferencia dos sinóticos. Se Mateus e Lucas tiveram Marcos como base, como reza a teologia moderna, haja vista tanta semelhança e o fato de Marcos ser escrito primeiro (ditado por Pedro ao próprio Marcos, seu filho na fé), a ótica do evangelista do amor é a origem celestial de Cristo e Sua Divindade. Se Marcos não começa com uma genealogia por apresentar Jesus como servo, se Mateus inicia com sua genealogia real e Lucas se debruça sobre uma genealogia mais humana, inclusive apontando mulheres na árvore genealógica do Messias, João introduz em sua biografia do Mestre, o princípio anterior a todas as coisas. Quando diz: “No princípio era o Verbo”, ele lança mão do termo grego “arche” que tem o significado de origem e corresponde ao hebraico “bereshit” de Gn. 1.1: “No princípio criou Deus” (“Bereshit bara eloim”). O autor não apresenta genealogia porque a sua intenção é mostrar a relação que Jesus tinha com o Pai antes da fundação do mundo e isso o faz em diversas partes de sua obra, como em Jo. 8.58 e 17.5.

Ao escrever que o Verbo estava com Deus e que Este era Deus, o escritor está afirmando que o Filho é Deus igualmente e negando a doutrina gnóstica da existência dos “aeons”, que seriam seres emanados da divindade e intermediários entre Deus e os homens.

Outra característica da doutrina dos gnósticos era a ideia de que Jesus não tinha um corpo real, mas, fluídico, irreal ou fantasmagórico. Portanto, para Cristo ser Deus, não poderia encarnar, visto que na concepção gnóstica Deus era um ser puro, habitando em uma esfera de luz e pureza inacessível, e para tal não poderia ter contato com a matéria que era “inerentemente má”. João esclarece no início de sua obra que o Verbo estava com Deus, era Deus e “se fez carne e habitou entre nós e vimos a Sua glória como a Glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1.14).

A doutrina da encarnação do Verbo é uma pilastra na doutrina cristã que não pode faltar. É tão sério o assunto que o mesmo João, em suas epístolas, dispara contra as heresias as seguintes palavras: "...provai os espíritos se procedem de Deus (...) todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus, mas é o espírito do anticristo” (I Jo. 4.1-3). Não por acaso ele começa sua primeira epístola dizendo “o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da Vida” (I Jo. 1.1 A.R.A), em outras palavras, nada de corpo fluídico, irreal ou fantasmagórico: o Verbo encarnou, eu o vi, falei com Ele, andei com Ele e, mais que isso: toquei nEle e inclinei minha cabeça sobre seu peito...Sim, o Verbo se fez carne!

Precisamos resgatar a doutrina da encarnação do Verbo para não corrermos o risco de sermos levados pelas sutilezas dos gnósticos modernos da Nova Era e do ocultismo tão em voga em nossos dias. Faz-se necessário afirmarmos a doutrina do Logos na concepção cristã e os milagres da hipóstase e da kenósis, hoje mais do que nunca.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!

Deus abençoe a todos.



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