quinta-feira, 18 de julho de 2013

A ASSEMBLEIA DE DEUS MUDOU


Muitos têm escrito sobre isso e não quero afrontar o texto ou o pensamento de ninguém. Para mim a igreja nasceu em 12 de setembro de 1982, quando conheci o senhorio do Senhor Jesus. Que dia memorável! Passados 30 anos e não consigo esquecer a noite daquele dia. Cada detalhe está registrado na minha memória como se fossem imagens fresquíssimas. Por falar em memória, muitas são as lembranças daqueles tempos em que ouvia-se melhor louvor e a mensagem da Cruz era a tônica, seguida da doutrina da santificação e esperança da Vinda de Jesus. Que boas lembranças das manifestações espirituais genuínas regadas de comoção verdadeira em um universo e ambiente cheios de temor a Deus e de santa obediência por amor.

Não sou capaz de descrever o que ocorreu nos outros cerca de 70 anos passados desde 1982, mas o que ouço dos velhinhos que conheceram os missionários e os receberam em suas casas, do modo como procediam e do modo como nossa igreja cresceu é de tirar o fôlego! Quem viu e ouviu, como eu, Alcebíades Pereira Vasconcelos e Eurico Bergsten ensinando acerca da Bíblia, da Doutrina e Teologia Pentecostal sabe do que estou falando. Não é para se comparar com os “doutores” arrogantes em muitos de nossos congressos. Havia graça abundante nesses homens e havia um comprometimento que hoje não se vê facilmente. Sobejavam em carisma, unção, sabedoria e humildade.

Rejeito o rótulo de saudosista, pois tenho pregado e ensinado em diversos lugares que amo a igreja do meu tempo. É a melhor igreja de todos os tempos, pois é a minha igreja! Todavia, os dons eram mais abundantes no passado, as profecias eram verdadeiras e cumpriam-se cabalmente. Já nos primeiros dias de minha conversão, ouvia dos mais espirituais: “Haverá um tempo em que não teremos essa liberdade espiritual que temos hoje, por isso devemos aproveitar bem esse tempo para orar e buscar ao Senhor”. Eles estavam certos. Eu pensava que faziam referência à perseguição, mas falavam de apatia espiritual. Hoje alcançamos praticamente todo o país, somos ricos e temos uma igreja grande, forte e influente. Temos representantes em todas as esferas do poder; ótima aparelhagem de som e ótimos profissionais nessa área; templos grandes e suntuosos, com estacionamentos amplos, berçário; equipes de TV e mídia; grandes pregadores e excelentes cantores. Todavia, temos muita técnica, muitos talentos e pouquíssima inspiração. Claro que há exceções.

Tenho contato com muitas pessoas que admiram minha igreja porque foram assembleianos um dia, outro tanto que gosta dela porque seus pais são de lá, mas resolveram seguir outra igreja porque a “bléia” (expressão deles) é muito rígida e não conseguiram seguir os usos e os costumes, etc. Outros ainda saíram por conta de escândalos regionais e divisões. Que pena! Perdemos tantos membros! Muitos deles ingressaram em igrejas descompromissadas, sem um histórico doutrinário e ficaram à deriva sem saber em que crerem e muitos nem sabem explicar a razão de sua fé. Lembra bem o diálogo de Jesus com a samaritana: “Vós adorais o que não sabeis”. Vamos pagar por isso, aliás, já estamos pagando! Contudo, muitos outros se sentem felizes em suas novas denominações, o que devemos respeitar. E o que falar de igrejas fundadas por pastores que saíram da gloriosa Assembleia de Deus e estão crescendo com Graça?

Sim, mudamos! E poderíamos falar sobre mudanças de outras naturezas... Mas, aí teríamos que escrever um livro. 

Amo minha igreja, porém, será que está valendo a pena ser grande, rico, importante, influente e não ter o carisma de nossos pais? De fato o que me preocupa não é tanto o presente, mas o futuro dessa igreja tão abençoada! Penso que seria melhor discutirmos o que será dessa igreja nos próximos cem anos e o que poderíamos fazer com relação à Igreja de nossos filhos, as novas gerações! 

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

IGREJA ATUAL: CRESCIMENTO SEM PROFUNDIDADE

Por Claudionor de Andrade

Acabo de ler o último livro de John Stott (1921-2011). Publicado em 2010, O Discípulo Radical traz o adeus singelo e carinhoso do teólogo inglês: “Ao baixar minha caneta pela última vez (literalmente, pois confesso não usar computador), aos 88 anos, aventuro-me a enviar essa mensagem de despedida aos meus leitores. Sou grato pelo encorajamento, pois muitos de vocês me escreveram”. Algumas linhas adiante, despede-se ele de seus amigos e discípulos: “Mais uma vez, adeus”. O livro não é só despedida; é um alerta grave e urgente à nossa cristandade. Ao descrever o perfil da igreja evangélica atual, o irmão Stott, já bastante apreensivo, preferiu ser econômico nas palavras: “Crescimento sem profundidade”.

Constranjo-me a concordar com a análise de Stott. Sei que não devo generalizar, pois ainda há rebanhos sadios e bem nutridos. Mas a verdade é que nunca as igrejas estiveram tão cheias de crentes tão vazios. O que está acontecendo conosco? De imediato, seja-me permitido apontar dois fatores que vêm orfanando os filhos de Deus: a substituição do Cristo eterno pelo Jesus secular e a retirada da cruz da mensagem evangélica.

Ao invés do Cristo eterno, o Jesus secular
O maior inimigo de Cristo na presente década é o Jesus que nós, evangélicos, criamos no século passado. Parece que, no armário de nossa teologia, há sempre um “Jesus” pronto a justificar-nos todos os disparates e ambições. Tal Jesus, porém, está longe do Cristo morto e ressurreto do Evangelho. O interessante é que, há bem pouco tempo, não poupávamos ataques ao Jesus comunista da Teologia da Libertação. Mas acabamos por inventar um bem pior. Capitalista e terreno, nosso Jesus desenvolveu uma ação preferencial pelos ricos, e já não se acanha em especular na bolsa dos valores invertidos e efêmeros. Ele induz o povo de Deus a transformar pedras em pães, a saltar do pináculo do templo e a curvar-se ante o príncipe desta geração – o maldito e perverso Mamom.

Na promoção do Jesus capitalista, alguns mestres e doutores estão tornando o rebanho de Deus dependente de um cristianismo sem Cristo: é o ópio do atual evangelicalismo. Não foi essa, porém, a mensagem que Paulo expôs aos coríntios. Professando estar comprometido com o evangelho genuíno e radical, escreve o apóstolo: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).

Se quisermos um crescimento com profundidade, temos de nos voltar, com urgência, ao Cristo anunciado pelos santos apóstolos: morto, crucificado e ressurreto. O Jesus do Calvário é insubstituível e inimitável.

Ao invés da Palavra de Deus, a palavra do homem

Quem prega um Jesus diferente do Cristo apostólico acabará por expor um evangelho estranho à mensagem da cruz. Assim como a Lei de Moisés nada era sem os Dez Mandamentos, de igual modo o Sermão do Monte: de nada nos valerão suas bem-aventuranças sem as reivindicações éticas do Mestre. Logo, não posso aceitar uma mensagem politicamente correta se, profeticamente, for inconsistente e permissiva. Afinal, fomos chamados a atuar como homens de Deus e não a representar como homens do povo. Nosso compromisso é com a Palavra de Deus.

Na ânsia por aumentar seus rebanhos, há pastores que retiram a cruz de suas mensagens, tornando-as mais palatáveis. Já descompromissados com o Sumo Pastor, não mais falam o que os crentes necessitam ouvir, mas o que os seus clientes querem escutar. Se estes não mais suportam a sã doutrina e, acriticamente, consomem o que lhes chega ao aprisco, por que se afadigar em servir-lhes o genuíno alimento espiritual? Ao invés do texto bíblico, um pretexto casuístico e oportunista. Não sei que nome dar a esse tipo de sermão. De uma coisa, porém, não tenho dúvidas: deve ser muito eficiente, porque infla as igrejas e engorda os rebanhos. Nesses currais, porém, as ovelhas não são fortes: são obesas de si mesmas. Embora comam muito, alimentam-se mal. Acham-se à beira da inanição. A mensagem pode ser eficiente, mas é ineficaz para nutrir as almas que anseiam por Deus.

Em toda a história da Igreja Cristã, nunca se consumiu tantos livros e sermões. E, apesar disso, nunca se viu tantos crentes gordos de si e magros de Deus. Essa gente enche os templos e inflaciona as estatísticas, gerando um crescimento raso.

Não sou contra o aumento do rebanho de Cristo. Se o Evangelho é pregado é natural que se distendam os redis. Haja vista a Igreja Primitiva. Passados trinta anos, desde o Pentecostes, as conversões multiplicaram-se em Jerusalém, tomaram toda a Judeia e Samaria, alcançando os confins da terra. Aliás, havia convertidos até mesmo na casa de César. Mas era crescimento profundo e radical – enraizado na doutrina dos santos apóstolos.

Só pode haver crescimento genuíno com maturidade espiritual. Há uma grande diferença entre o fruto que por si mesmo amadurece e o que é posto na estufa. Este pode ser até maior, mas jamais terá a doçura daquele. Infelizmente, muitas igrejas tornaram-se estufas de crentes. Suas mensagens, geradas em eficientes departamentos de marketing, engrandecem o homem e diminuem Deus, exaltam a bênção e humilham o Abençoador, menosprezam a doutrina da santificação por já não prezarem o santíssimo Deus.

Aferindo a qualidade do rebanho de Cristo

Temos de aferir nossa qualidade não pelas estatísticas, e, sim, pela doutrina dos apóstolos. Antes recorríamos à Bíblia e, humildemente, cotejávamos a nossa vida de acordo com a Palavra de Deus. Hoje, buscamos os gráficos do IBGE e nos aborrecemos quando nossas expectativas não são cumpridas. Dessa forma, viemos a substituir o imperioso “ide” do Mestre por metas empresariais. E, sempre que estas são batidas, distribuímos galardões: reajustes salariais, viagens e presentes. Se continuarmos assim, não estou certo se haverá alguma coisa a recebermos no Tribunal de Cristo, pois a nossa premiação eterna já está sendo usufruída no tempo.

John Stott não estava errado. A igreja evangélica cresceu e já é contada aos milhões. Somos, de fato, um oceano vasto, azul e belo. Infelizmente, tal oceano pode ser atravessado com as águas pelos artelhos. Quem dera fôssemos como o poço de Jacó! Não tinha a boca grande nem arrogante. Sua profundidade, contudo, era insondável. Para que isso venha a acontecer, faz-se urgente que voltemos ao Cristo de Deus, e deixemos de lado os “jesuses” que, todos os dias, tiramos de nossa prateleira teológica. Além disso, faz-se urgente recolocarmos a cruz em nossas mensagens.


Se agirmos assim, nosso crescimento terá a profundidade do rio de Ezequiel. De caudaloso e insondável, terá de ser transposto a nado. Basta de pregarmos o que o povo quer ouvir. Falemos o que as pessoas precisam escutar. Além do mais, na Igreja não temos clientes, mas ovelhas ansiosas por ouvir o Bom Pastor.

Também vi no blog Pregai o Evangelho do meu Amigo Xavier Campos